O Poeta, pensando nos desconcertos do Mundo, parece chegar a conclusões que negam a Providência, que crê incompatível com tais desconcertos, em que a injustiça predomina. As oitavas que ao problema dedica, são a meditação mais audaciosa a que, em matéria religiosa, foi dada expressão poética. Mas o seu Autor, que na elegia Se quando contemplamos as secretas . . ., sente a existência de Deus na ordem do Universo, sente-a na verdade que nas cousas anda, / Que mora no visíbil e invisíbil, e, para juntar à crença em Deus a crença em Cristo, não se contenta de opor, às dúvidas de todos os treze versos anteriores do soneto Verdade, amor, rezão, merecimento, a absoluta afirmação do último: Mas o melhor de tudo é crer em Cristo. A frase é, na verdade, mais imperativa do que persuasiva. Em toda esta elegia se esforça o Poeta por dar evidência a todos os pormenores da cega injustiça, da gélida ingratidão, da crueldade desumana a que Cristo é sacrificado, e insere versos deste teor:
Senhor! Que amor foi este tão crecido,
Que tão dobradas forças faz singelas
Lá de tão alto, baixo e abatido?
Senhor! Que amor foi este tão crecido,
Que tão dobradas forças faz singelas
Lá de tão alto, baixo e abatido?